terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

João Ferreira de Souza


Texto de Antonio Carlos Popinhaki

Quando João Ferreira de Souza nasceu em 25 de janeiro de 1901, em Campos Novos, Santa Catarina, Brasil, seu pai, Terezio Ferreira De Souza, tinha 28 anos e sua mãe, Christina Ferreira de Almeida, tinha 20 anos. João Ferreira de Souza, um homem de origem humilde e de espírito determinado, foi tropeiro e empregado da família Almeida. Ele vivia em Marombas, no interior de Brunópolis, região que, na época, ainda era conhecida como Palmares por causa da grande quantidade de palmeiras ou butiazeiros existentes no local. Foram inúmeras as viagens na sua juventude como peão e tropeiro, João transportava gado de Curitibanos até Campos Novos, e durante esses trajetos, ele e seus companheiros tropeiros costumavam pernoitar próximo a um pequeno arroio ou córrego. Era ali que João, com um olhar visionário, costumava dizer aos colegas: "um dia, este terreno será meu". Os demais tropeiros o ridicularizaram, pois achavam impossível alguém que recebia tão pouco a título de serviços prestados como peão, ter condições de comprar tão belas terras.

O tempo passou, e João casou-se com Sebastiana Julia Weber em 30 de setembro de 1926, em Curitibanos, Santa Catarina, Brasil. Eles tiveram pelo menos 1 filho e 2 filhas. Sebastiana Julia Weber, era uma mulher igualmente trabalhadora e dedicada. Ela era filha de Leopoldo Weber descendente de imigrantes alemães que se estabeleceram na região. Esses germânicos eram muito industriosos e foram muito dedicados ao progresso local. O casal João e Sebastiana fixou residência em Marombas, onde construíram uma vida simples, porém cheia de esforço e perseverança. Enquanto João seguia suas viagens como tropeiro, Sebastiana dedicava-se à fabricação de queijos e charque, produtos comercializados nas viagens que o marido fazia para o litoral. Juntos, formavam uma dupla incansável, sempre em busca de prosperidade. João levava para o litoral nas bruacas das mulas: charque e queijo e trazia para a região do planalto catarinense, açúcar, sal e café. Ambos os produtos eram comercializados com maestria por João e pela própria esposa Sebastiana, uma exímia negociante.

Com o passar dos anos, o trabalho árduo do casal rendeu frutos. Eles conseguiram juntar dinheiro suficiente para realizar o sonho de João: comprar o tão desejado terreno onde os tropeiros costumavam pernoitar. Adquiriram 140 alqueires de terras, um marco que impulsionou ainda mais seus negócios e consolidou sua estabilidade financeira.

João e Sebastiana tiveram três filhos, construindo uma família unida e cheia de amor. Um menino e duas meninas, os quais foram chamados de Pedro Weber de Souza (2 de junho de 1924), Lidia Ferreira de Souza (16 de agosto de 1933) e Terezinha Ferreira de Souza (20 de junho de 1943). Uma curiosidade importante está relacionada ao nascimento de Pedro Weber de Souza, os registros do cartório de Curitibanos atestam que eles casaram em 1926, já o nascimento de Pedro é anterior à data de casamento (1924). Ou tiveram o filho antes do casamento, ou houve erros no momento de registrar a data do nascimento do primogênito, uma vez que o registro foi feito em 1929, atestando que o filho tinha nascido em 1924. Alguns anos depois, a vida reservou-lhes (para João e os filhos) um momento de profunda dor. Sebastiana, o grande amor de João, adoeceu e veio a falecer em 15 de dezembro de 1945. Sua partida deixou um vazio imenso no coração de João, que sempre a considerou sua companheira de todas as horas e a razão de sua força. A perda de Sebastiana abalou-o profundamente, mas a memória de seu amor e a herança de trabalho e dedicação que deixaram permaneceram como um legado para as gerações seguintes.

João ficou com duas filhas pequenas por criar, Lídia tinha 12 anos e Terezinha estava com apenas 2 anos. Pedro já era um homem com 21 anos. Certa vez apareceu na fazenda um homem de nome Zenaide Cândido Ferreira dos Santos oriundo da região do Taquaruçu, interior de Curitibanos. Esse homem trabalhou para João como taipeiro e auxiliar de serviços gerais. João ficou conhecendo a família de Zenaide e viu a oportunidade de encontrar uma nova companheira para constituir uma nova família. No início da década de 1948 João casou-se com Hermínia de Souza, irmã de Zenaide.

Hermínia então acabou de criar as duas filhas de João Ferreira de Souza. Após o casamento, logo ela engravidou, em 1949 nasceu uma menina que recebeu o nome de Graçulina. Em 1952 nasceu um menino ao qual deram o nome de Darcy Ferreira de Souza.

No dia 13 de outubro de 1968, João Ferreira de Souza faleceu devido a complicações de um câncer no estômago. O velório ocorreu em sua residência na fazenda, reunindo inúmeros parentes, vizinhos e amigos. Para alimentar as pessoas que passaram a noite velando o corpo, foi necessário abater uma vaca.

No dia seguinte, seu genro, Pedro Popinhaki, que na época trabalhava na Prefeitura Municipal de Curitibanos, conseguiu com o então prefeito Wilmar Ortigari o empréstimo do carro fúnebre para transportar o corpo até o cemitério da Ronda, localizado no interior da antiga Palmares, atualmente Brunópolis. Assim, João Ferreira de Souza foi sepultado ao lado de sua amada esposa, Sebastiana Júlia Weber, no cemitério que fica ao lado da igreja da Ronda. Passados alguns meses, a família mandou construir uma estátua de um Cristo com uma cruz sobre o túmulo do casal.

Referências para o texto:

Com informações de Terezinha Ferreira Popinhaki

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Lídia Ferreira de Souza



Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Lídia Ferreira de Souza nasceu na vila de Marombas em 16 de agosto de 1933, filha de João Ferreira de Souza e Sebastiana Julia Weber. Não há muitas informações sobre seu aprendizado formal na infância, mas é provável que ela tenha aprendido a ler e escrever com algum professor que lecionava na vila de Marombas. Atualmente, sua filha Tereza afirma desconhecer como a mãe foi alfabetizada, mas ressalta que ela tinha uma excelente capacidade de leitura e escrita, além de saber fazer contas de matemática.

Na juventude, conheceu o jovem Zenaide Cândido Ferreira dos Santos, morador da região do Taquaruçu, com quem iniciou um namoro que resultou em casamento. Do relacionamento, nasceram dois filhos aos quais deram os nomes de Valdemar e Vilmar, mas ambos faleceram ainda bebês, vítimas de doenças causadas pela falta de cuidados médicos adequados. A perda foi devastadora para Zenaide e Lídia. Logo após, Lídia engravidou novamente e deu à luz uma menina, a quem chamaram de Tereza. Sendo pessoas simples, com pouca escolaridade e entendimento, Lídia e Zenaide acreditaram que a morte dos filhos anteriores tivesse ocorrido por conta de algum vírus ou bactéria. Por isso, passaram a criar Tereza com extremo cuidado. Não a deixavam brincar no pátio da casa, temendo que ela pudesse adoecer. Não deixavam a menina comer nada gelado e quando saiam, a menina tinha que ficar sob um enorme guarda-chuva. Sempre que alguém visitava a residência do casal, a menina era trancada em um quarto, para evitar que as visitas, por mais que não soubessem, pudessem transmitir algum resfriado ou gripe. O medo de perder a filha, como perderam os dois primeiros filhos, os consumia.

Dessa forma, Tereza foi mantida isolada na casa do casal, que ficava na fazenda de João Ferreira de Souza, pai de Lídia. Eles construíram uma residência no centro da fazenda, que possuía mais de 100 alqueires de terra agricultáveis e para o uso da pecuária, com matas e faxinais. Lá, Zenaide buscava formas de sustentar a esposa e a filha pequena. Lídia era uma mulher muito austera, com características herdadas de seus pais, João Ferreira de Souza e Sebastiana Julia Weber. Segundo as lembranças de Tereza sobre sua mãe, "Lídia era extremamente rigorosa na educação". Durante o tempo em que viveram na fazenda de seu pai, Lídia não engravidou novamente.

Em 13 de outubro de 1968, João Ferreira de Souza faleceu devido a complicações de um câncer no estômago. Zenaide e Lídia herdaram uma parte da fazenda no processo de inventário. O casal logo vendeu sua parte e comprou 8 alqueires de terra em Curitibanos, às margens da estrada que liga a área urbana do município à localidade da Lagoinha.

O casal Zenaide e Lídia teve, ao todo, quatro filhos: dois meninos, que faleceram ainda na infância, Tereza e, posteriormente, outra filha chamada Rosane Aparecida dos Santos. Infelizmente, Rosane faleceu ainda jovem devido a complicações relacionadas à insuficiência renal e meningite. Ela foi casada por duas vezes e não teve filhos.

Em Curitibanos, Zenaide foi batizado em uma igreja evangélica, mais especificamente na Igreja do Evangelho Quadrangular, tornando-se um membro muito dedicado dessa denominação. No entanto, os demais membros da família não demonstraram a mesma firmeza nos ensinamentos e na observância dos dogmas da organização, o que os levou a não permanecerem fiéis.

Lídia Ferreira de Souza faleceu no dia 4 de julho de 2008. Ela já era viúva de Zenaide, que havia falecido em 2 de novembro de 2002. Após a morte de Lídia, a única filha do casal que ainda estava viva, Tereza, herdou a propriedade da família, dividindo-a posteriormente em lotes para os demais herdeiros.




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

João Popinhak



Nas páginas da tradição em que figuram as personalidades que marcaram a evolução histórica de Curitibanos, merece inclusão à figura largamente conhecida e inesquecível de João Popinhak.
João nasceu na Ucrânia, no ano de 1886, com oito anos de idade, ou seja, em 1894, acompanhando seus pais, veio para o Brasil, juntamente com uma leva de emigrantes. Desembarcaram num porto do Estado do Rio de Janeiro, permanecendo no local aguardando oportunidade para viajarem para o Estado do Paraná, onde se localizaria na Colônia Antonio Olinto, município de Três Barras.
Durante a permanência no Estado do Rio de Janeiro, grandes dificuldades atormentaram aquela gente que, embora sob a proteção do governo brasileiro, eram mal e precariamente atendidos em suas necessidades. Faltava-lhes o mínimo de conforto e condições de higiene e de alimentação, sobrevindo daí grave epidemia que, espalhando atribulações e sofrimentos acabaram por dizimar com a morte de grande parte desses destemidos emigrantes.
A família Popinhak, felizmente, escapara sã e salva da devassadora acometida da epidemia, guardando, porém, indelével as trágicas recordações dos acontecimentos.
Chegados à colônia paranaense, o casal Popinhak e o menino João, dedicaram-se as lides da agricultura e da erva-mate.
João era o filho mais velho da família, que mais tarde se tornara numerosa, exigindo dos pais que eram pobres, grandes esforços e dificuldades para a sua manutenção.
Nessa época costumava fazer passagens pelo local, o tropeiro Francisco Carvalho, vulgo Chico Ruivo, de Curitibanos, lá fazendo os seus pernoites ou sesteadas e fazendo assim, relações de amizade com a família Popinhak.
O menino João, serviçal e ativo, era alvo da atenção do tropeiro que certo dia resolveu convidá-lo para vir morar em Curitibanos. O menino alegrou-se com a perspectiva da aventura e, com o consentimento dos pais, veio morar com Chico Ruivo, onde fora admitido como membro da família. Tinha, então, a idade aproximada de 10 a 12 anos. Na casa de seu novo pai de adoção João Popinhak, graças aos seus pendores para o trabalho e suas dignas qualidades morais, granjeou no mais alto grau, a simpatia, a confiança e a estima da família Carvalho em cujo seio cresceu e formou a sua personalidade. Ali trabalhava nas lides da fazenda, tendo sido mais tarde encarregado dos próprios negócios do seu amo, conduzindo tropas de cargueiros, geralmente para o litoral do Estado, onde vendia, trocava e comprava mercadorias, fazendo todo gênero de negócios, sempre lucrativos, merecendo cada vez mais a consideração da família em que vivia.
Era de arrebatar o espírito, o relato que fazia dessas viagens, através de caminhos quase intransitáveis, enfrentando intempéries varando campos e matos onde a ferocidade dos índios era um perigo constante. Várias caravanas de tropeiros foram dizimadas pelos bugres naqueles tempos. João Popinhak, entretanto, segundo ele, já era conhecido dos indígenas e, como jamais lhes fizera mal, era por eles respeitado. Via os bugres, conforme dizia escutava suas vozes e os cumprimentava gesticulando em demonstrações pacíficas, tratando-os de ‘compadres’ em voz alta que reboava na mata. Parece que os índios entendiam o sentido daquelas manifestações e respondiam com outros gritos selvagens. E a tropa passava calmamente e sem problemas. E fez muitíssimas vezes essas viagens arriscadas, transpondo a “serra dos Pires”, o lugar mais habitado pelos bugres e mais propício aos seus costumeiros ataques traiçoeiros, onde se verificavam trincheiras que denunciavam esperas de tocaia que eram cortadas a facão para se abrir à passagem para a tropa. Quantas e quantas noites pousavam em lugares infestados pelos selvagens, em plena mata, montando guarda ao acampamento para prevenção contra possível assalto dos bugres que rondavam o pouso, cujos vultos apareciam por vezes entre as clareiras da mata assustando os animais e enchendo de apreensões os tropeiros.
Popinhak contava as histórias dessas viagens como ocorrências saudosas nas passagens de sua vida.
Nos serviços da fazenda, Popinhak era um braço hábil e forte. Afora as viagens de negócios, quando se encontrava em casa, além de cuidar dos serviços gerais da vida do sítio, dedicava-se ainda e com rara habilidade a confecção de cestos, bruacas e cangalhas. Mais tarde, passou a construir ranchos, galpões e casas residenciais, tornando-se, com o correr do tempo, um exímio artífice da madeira trabalhada. Foi recatado carpinteiro, hábil marceneiro e verdadeiro arquiteto nas construções de alvenaria. Várias construções ainda hoje existentes na cidade de Curitibanos, como a casa localizada a Rua Cel. Vidal Ramos, 380, e no interior do Município, inclusive a primeira superintendência municipal, são obras que atestam a sua capacidade de trabalho e que por muitos anos ainda marcarão a passagem de Popinhak por Curitibanos.
A sua capacidade de trabalho e seu pendor artístico proporcionaram-lhe a independência e o tornaram conhecido e popular em todo o município e até fora dele, sendo muito solicitado por todos que dele precisavam para a execução de serviços de sua especialidade.
Em 1911, casou-se com Laura Quadros de Andrade, filha de Salustiano Pinto de Andrade e Queribuna Quadros de Andrade, tradicional família curitibanense.
Morou em Curitibanos por muitos anos, vindo a transferir residência para localidade de Marombas, onde se instalou com casa de comércio e hotel, cuidando, ainda, da balsa, por ele construída, que dava passagem sobre o Rio Marombas. Seu hotel era muito frequentado, pelo clima acolhedor que ali reinava, reflexo da simpatia do casal proprietário, pelas boas camas, com cobertas de penas e pela excelente comida preparada pelas mãos hábeis de Dona Laura.
Mitomaníaco, inveterado, Popinhak tornou-se célebre pelas mentiras que tão graciosamente sabia pregar. Suas petas, tão habilmente arquitetadas ganharam nome e se passavam de boca em boca, fixando-se como assuntos alegres das conversas populares. Tinha ele um jeito todo especial de contá-las e o fazia com toda seriedade, despertando o interesse do ouvinte que o escutava série e atento. Caindo na realidade após o desenlace da estória, uma risada tardia, ainda tímida, mas alegre aflorava nos lábio do ouvinte, enquanto que Popinhak, tentando manter a austeridade deixava transparecer no semblante de um riso mal contido.
Quem não conhece, entre os curitibanenses, a famosa patranha do revolver de Nereu Ramos? O governador Nereu Ramos perdera nas águas do Rio Marombas, um revolver que lhe caíra das mãos quando o experimentava sobre a ponte, quando por ali passava de uma viagem que fazia ao interior do Estado. Certo tempo depois, João Popinhak, pescando uma grande traíra, encontrou no seu bucho, o revolver do governador. Queixava-se, todavia, porque, tendo devolvido o revolver, não recebera do seu dono nem uma simples palavra de agradecimento.
De outra feita, pela ocasião da guerra dos fanáticos, diante da ameaça de que os jagunços iriam incendiar a cidade, Popinhak fugiu com a família, indo morar na localidade de Aquidaban (Hoje, Apiúna), onde morou por vários anos.
Ao sair de Curitibanos, vendeu todo o gado que possuía, levando consigo os animais de montaria, deixando vazio um potreiro, bem fechado com arame farpado, para cuja cerca tinha aproveitado como palanques os pinheiros novos que ali existiam com abundância. Anos mais tarde, quando voltava a sua velha propriedade Popinhak procurou o potreiro para ver em que estado se encontrava, mesmo porque pretendia colocar os animais que trazia. Não conseguiu localizar o que procurava, pois não encontrou nem o potreiro, nem a cerca. Ficou pasmado, pois o vestígio de um velho caminho identifica o local como sendo ali mesmo. Olhou e re-olhou, rebuscou e nada de cerca. Desanimado, volveu o olhar para o alto e lá viu, ainda em perfeita ordem, a cerca de arame nas pontas dos pinheiros que havia crescidos.
Eram dessa ordem as suas estórias, com as quais granjeou simpatia e popularidade a ponto de atrair visitas que propositadamente o procuravam para ouvi-lo. E era grande o seu repertório, afora as que arquitetava de improviso e que contava com aquela calma e simplicidade que lhes eram características e próprias dos espíritos pacatos e das consciências tranquilas.
Nesse ambiente tranquilo e de alegre fraternidade vivia João Popinhak, a todos distribuindo bondade. A sua mesa sentou-se muitos necessitados e a ninguém jamais negou os favores de seus serviços.
Texto de Juvenal B. Bacelar
Colaboração de Sebastião Luiz Alves

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João Popinhak nasceu na Ucrânia no ano de 1886. Filho de Alexandre Popiwniak e Anna Tataren.  Na Europa, a forte propaganda, a crise social, política e rural fizeram os pais emigrarem para o Brasil em 1894.  Desembarcaram no Porto do Rio de Janeiro, aguardaram na quarentena. O descaso dos agentes da alfândega, não atendendo às necessidades de higiene e a precária alimentação, iniciou uma epidemia de tifo acabando por dizimar grande parte dos emigrantes. Finda a quarentena, a família Popinhak seguiu para a Colônia Antônio Olinto, no interior do Paraná.
Dedicaram-se à agricultura e extração de erva-mate. João era o filho mais velho, que no decorrer dos anos se tornou numerosa, exigindo muito esforço e dificuldade na manutenção da família.
A comitiva de Francisco Teixeira de Carvalho - Chico Ruivo sempre pernoitava na propriedade dos Popinhak, com tropas de muares e gado tendo o destino, a Feira de Sorocaba - SP. Em uma dessas tropeadas, entre os anos de 1896/1898, Chico Ruivo vendo a situação crítica que passavam, acerta com Alexandre e adota o menino João como membro da família, o trazendo para Curitibanos.  Nessa parte existe outra versão, não confirmada oficialmente, que João foi vendido, fato comum naquela época.
João aprendeu as lidas campeiras na fazenda dos Carvalhos, mais tarde foi encarregado de conduzir tropas de cargueiros com destino ao litoral catarinense, onde vendia as mercadorias, trocava e comprava produtos para consumo da família e abastecia os armazéns da região. Além de confeccionar cestos, bruacas e cangalhas, auxiliava João Batista Pozzo na montagem da serraria de Chico Ruivo no Campo da Roça, ampliando o seu conhecimento. Construiu ranchos, galpões e casas, tornando-se com o tempo, um excelente carpinteiro e marceneiro (Casa dos Ortigari/Magalhães e antiga Prefeitura, hoje o Museu).
Casou-se com Laura Quadros de Andrade no dia 08 de junho de 1913, filha de Salustiano Pinto de Andrade e Cherubina Quadros de Andrade, vindo a transferir residência para a localidade de Marombas, onde instalou armazém e hotel, cuidando ainda da balsa, por ele construída, que dava passagem sobre o Rio Marombas.
João tornou-se célebre pelas famosas mentiras que tão graciosamente sabia pregar: a grande traíra que pescou, nela encontrou o revolver do Governador Nereu Ramos. Com fundo de verdade (ilustrava), a dos violentos índios do Morro do Taió. Os índios canibais da Serra dos Pires. Antes do ataque e incêndio de Curitibanos pelos caboclos na Guerra do Contestado em 1914, vendeu o gado e os cavalos, fugindo com a família para Aquibadã (Apiúna), onde ficou por vários anos. Quando retornou não encontrou vestígios da casa, potreiro, as cercas e muitas outras bem arquitetadas.   
O casal não teve nenhum filho legítimo, mas adotam 13 filhos alheios, criando-os com carinho e dando uma vida melhor. Esses filhos vieram amparar o casal na velhice. Laura faleceu em 1962 em Curitibanos, o fato deixou desconsolado, resolveu voltar para a cidade e morar com uma das filhas adotiva. João Popinhak adoeceu e ficou acamado por mais de um ano. Acabou falecendo em 27 de janeiro de 1971. Entretanto, ainda vive nas memórias dos curitibanenses que o conheceram.

Gregório Popinhak


Texto de Antonio Carlos Popinhaki

(Atualizado em 23 fev 2021)


Alexandre Popinhak emigrou para o Brasil, deixando para trás a sua amada Ucrânia para nunca mais voltar. O sonho dos imigrantes era vir ao Brasil, ficar rico e voltar à terra dos seus antepassados, coisa que raramente ocorria. Ele, a sua esposa Ana e os seus filhos, João, Maria e o bebê Basílio chegaram ao porto do Rio de Janeiro, a bordo do Vapor “Pará”, proveniente do porto de Gênova, Itália, em 28 de novembro do ano de 1895. Após passarem pela “quarentena” obrigatória na “hospedaria de imigrantes em Pinheiro”, local destinado para os que vinham do além-mar, entraram novamente num navio, dessa vez, com o destino ao porto de Paranaguá.

Como imigrante europeu, sua família estava destinada ao interior do Paraná, mais precisamente num dos lotes rurais de 10 alqueires, na pequena localidade de Antônio Olinto. Num livro de registro de imóveis guardado atualmente no Arquivo Público do Paraná, encontrei que ele era proprietário de dois lotes na localidade de “Linha Munhoz”. Precisamente, os lotes de números 38 e 39. Como os lotes não eram gratuitos, julgo que ele comprou os dois com muito trabalho e determinação.

A vida nunca foi fácil para um imigrante. Houve muitas dificuldades além do próprio idioma. Ferramentas, instalações apropriadas para o abrigo da família contra as intempéries da natureza e animais selvagens, alimentos, remédios, roupas, utensílios domésticos estavam no início da imensa lista de privações.

João, o filho de Alexandre era ainda pequeno e ajudava o pai dentro das suas possibilidades. Dedicaram-se à agricultura e à extração de erva-mate. A família, ao longo dos anos, começou a se tornar numerosa, exigindo muito esforço e dificuldade na sua manutenção.

A comitiva de um tropeiro chamado Francisco Teixeira de Carvalho, o “Chico Ruivo", sempre pernoitava na propriedade da família Popinhak, com tropas de muares e gado, tendo o destino, a Feira de Sorocaba, interior de São Paulo. Numa dessas tropeadas, entre os anos de 1896/1898, “Chico Ruivo” vendo a situação crítica que a família anfitriã passava, acertou com Alexandre a adoção do menino João, como membro da sua família, trazendo o rapazola para Curitibanos. Infelizmente, há outra versão não confirmada oficialmente para esses acontecimentos, a de que Alexandre, não tendo mais nenhuma alternativa, trocou o filho por mercadorias ou por um bem que pudesse ser útil à família estabelecida em Antônio Olinto. Uma troca, ou uma venda? Ou simplesmente, o pai cedeu o filho para um forasteiro, para ser criado por ele, desejando-lhe melhor sorte? As respostas nunca serão conhecidas.

O fato é que esse “Chico Ruivo” agiu com honestidade e criou João Popinhak como se fosse seu próprio filho, ensinando-lhe as lidas campeiras na fazenda dos Carvalhos. Quando cresceu, foi encarregado de conduzir as tropas de cargueiros com destino ao litoral catarinense, onde vendia as mercadorias, trocava e comprava produtos para o consumo da família e abastecia os armazéns da região. Além de confeccionar cestos, bruacas e cangalhas, auxiliava João Batista Pozzo na montagem da serraria de Chico Ruivo no Campo da Roça, ampliando o seu conhecimento. Construiu ranchos, galpões e casas, tornando-se com o tempo, um excelente carpinteiro e marceneiro (Casa dos Ortigari/Magalhães e antiga Prefeitura, hoje o Museu).

João Popinhak, em Curitibanos, a mais de 200 quilômetros de onde sua família de sangue vivia, prosperou. Cresceu, adquiriu conhecimentos técnicos, personalidade e prestígio. Certo dia, recebeu a concessão da prefeitura municipal de Curitibanos para construir uma balsa sobre as águas do rio Marombas. Também recebeu a incumbência de explorar as travessias sobre a mesma, transportando cotidianamente num sistema de vai-e-vém, carros, pessoas, cavalos, cavaleiros, tropas e quem estivesse disposto.

Em contrapartida, a sua família de sangue cresceu em Antônio Olinto. Nasceram na casa de Alexandre e Ana, Gregório e Paraskevia, que foram adicionados aos que vieram da Ucrânia ou do além-mar, Maria e Basílio. Com dificuldades, os filhos cresceram e começaram a tomar seus rumos. Maria casou-se e mudou-se para Pato Branco/PR. Basílio e Gregório depois de casados, foram arriscar a sorte em Três Barras/PR, como empregados da Southern Brazil Lumber and Colonization Company. Paraskevia casou-se e foi morar em Porto União/SC. Alexandre Popinhak faleceu com 73 anos no dia 10 de julho de 1927 em Antônio Olinto/PR.

Gregório Popinhak nasceu no dia 1 de setembro de 1898, casou-se com Emília Tulchak no dia 1 de julho de 1922. Ele tinha 24 anos e ela, 17. Dessa união, nasceu uma menina. Deram a ela o nome de Rosália. Infelizmente ela faleceu num acidente horrível quando ainda era pequena. Ele deve ter se mudado para a cidade de Três Barras no ano de 1924 ou 1925, uma vez que Ana Popinhak, a sua filha mais velha viva, foi registrada no cartório de Antônio Olinto no ano de 1923. A próxima filha seria Miquelina, essa foi registrada como nascida em Três Barras.

Lá pelos idos anos 1930 do século XX, a situação não estava boa para os empregados da Lumber. Gregório e seu irmão, após ficarem desempregados, tentaram trabalhar com o que a vida lhes apresentava. Desde a extração de erva-mate, a moagem em ervateiras e outros serviços simples que não lhes trouxeram renda suficiente e satisfatória.

Devido à dificuldade enfrentada pela família que estava passando fome, Gregório Popinhak recebeu auxílio do seu sogro, Lucas Tulchak. Esse vendeu parte das suas terras em Antônio Olinto, pegou o dinheiro da venda e entregou para que Gregório abrisse um Armazém, um mini mercado na localidade de “Colônia Tigre", interior de Três Barras. Quando uma pessoa nunca administrou nada, nunca teve bens materiais e também, quando não conquistou esses bens na base do suor e da perícia, não sabe o que significa, em termos de valor monetário, bem algum. No caso de Gregório Popinhak, ele recebeu de presente o dinheiro e o estabelecimento comercial. Não labutou por eles. Tão logo o empreendimento começou, logo findou. 

Nesse tempo, já haviam nascido vários filhos. Rosália, havia morrido. Depois nasceu Ana, Miquelina, Bronislava, Pedro, João Popinhaki Sobrinho, Joana, Helena e Antonio. Em 1934 morreu a pequena Joana de grave infecção de vermes por faltar o mínimo de condições de higiene.

Gregório Popinhak entrou em contato com o seu irmão João que estava se saindo muito bem em Curitibanos, relatou-lhe as dificuldades, às quais estavam passando. João convidou toda a família para mudarem para a localidade de Marombas, interior de Curitibanos, onde poderiam trabalhar com ele no serviço de travessia do rio com a balsa. O convite também foi estendido à família de Basílio que também se encontrava em situação parecida à do irmão Gregório. Esse, não aceitou o convite do seu irmão João, decidiu permanecer em Três Barras.

No ano de 1937, Gregório Popinhak, seus filhos, filhas e algumas caixas com seus pertences embarcaram no trem com destino a Caçador/SC. Dessa cidade, pegaram um ônibus para Curitibanos, ao passar pela localidade de Marombas, desembarcaram todos no novo local que seria o lar da família pelos próximos anos. 

Gregório começou a trabalhar com o irmão. Inicialmente foram alojados num paiol velho que lhes serviu como casa. Depois foram mudados para uma casa de verdade.

Em Marombas, mais filhos nasceram: Maria Odete, José Rogério, Noely, Leniro, Maria Célia e Eolita. José Rogério, Noely e Leniro faleceram ainda crianças de doenças como o sarampo e a meningite. Agora podemos dizer que Emília Tulchak ficou 15 vezes grávida. Desde que casou com Gregório em 1922, até o nascimento da última filha Eolita em 1946 foram 24 anos. Nesse intervalo houve 15 gestações.

Depois de alguns anos trabalhando para o irmão e não conseguindo obter uma boa renda em termos de salário, Gregório começou a trabalhar numa fábrica de papelão que se instalou na região em 1942. Seu registro foi feito em 2 de janeiro de 1946 com o cargo de Contra-Mestre. Trabalhou na empresa até o dia 1 de janeiro de 1955. Na empresa, ele trabalhou em várias funções, até ganhar a simpatia e a confiança dos proprietários, chegando a ser uma espécie de encarregado de turno e setor.

As filhas mais velhas casaram e foram morar em outras cidades. Com o passar dos anos, ficaram apenas Maria Célia e Eolita, as mais novas. Em 9 de fevereiro de 1953 faleceu Emília Tulchak, deixando Gregório viúvo. Após a morte de Emília, depois de cinco anos, Gregório arrumou uma nova companheira. Maria Luisa Souza, filha de Francisco de Souza e Emília Rodrigues Silva, foi a sua segunda esposa. Casaram somente na igreja católica de Curitibanos, no dia 7 de novembro de 1958. Desse casamento, nasceu uma menina. Até agora, para mim, é um mistério, pois ninguém sabe do seu paradeiro.

Em 14 de agosto de 1966, Gregório Popinhak faleceu com 68 anos. Seus filhos e filhas foram pessoas conhecidas e fizeram parte do desenvolvimento de Curitibanos. Pedro Popinhak foi funcionário da Prefeitura Municipal, após o seu falecimento, em sua homenagem, foi nomeada uma rua com o seu nome (Rua Pedro Popinhaki) no bairro Bom Jesus. João Popinhaki Sobrinho foi um empreendedor em Curitibanos, proprietário de concessionária de veículos nos anos 1960 e 1970. Seus filhos foram proprietários de empresas do ramo madeireiro. Também encontramos uma rua com o nome de Rua João Popinhaki Sobrinho no bairro São Luiz. Maria Odete teve dois filhos que se elegeram vereadores, além das filhas que foram professoras reconhecidas por seus excelentes trabalhos nas escolas estaduais. Antonio Popinhak foi fazendeiro, industrial e proprietário de lojas de eletrodomésticos. Maria Célia foi professora e diretora de escolas. 


Referências para o Texto:


BACELAR, Juvenal Bráulio. João Popinhak. Escritos biográficos. Curitibanos/SC. 1973. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.


BRASIL, Sistema de Informações do Arquivo Nacional - SIAN. On line: Disponível em: https://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp


FALECIMENTO de Gregório Popinhak - Índice. “Brasil, Santa Catarina,

Registro Civil, 1850-1999,” images, FamilySearch, 2015. ISSN imagem 11 de

33. Disponivel em: <https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-267-12327-

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Acesso em: 10 março 2015.


FALECIMENTO de Emília Tulchak. “Brasil, Santa Catarina,

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POPINHAKI, Terezinha Ferreira. Depoimento sobre Maria Luisa Souza. Curitibanos.

2010.


Imagens








Laura Popinhak


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Aos 9 dias do mês de junho do ano de 1897, por volta das 11 horas da manhã, na residência do senhor Salustiano Pinto de Andrade, nasceu a sua filha, Laura Quadros de Andrade. O nome da mãe era Cherubina Quadros de Andrade. O pai era natural do Rio Grande do Sul, já a mãe, era natural de Curitibanos. A família de Salustiano e Cherubina era tradicional na vila, portanto, ambos eram bem conhecidos e idôneos.

Quando lhe faltava um dia para completar 16 anos, ou seja, no dia 8 de junho de 1913, Laura casou-se com João Popinhak, o ucraniano que se criou com a família do tropeiro Francisco Carvalho, apelidado de Chico Ruivo. O casamento foi realizado na sala das Sessões do Conselho Municipal, prédio destruído no ano seguinte (26 de setembro de 1914), pela invasão bárbara dos fanáticos liderados por Agustín Perez Saraiva, o Castelhano. João tinha 25 anos na ocasião do casamento. Também, a título de informação, o pai de Laura foi Capitão da Guarda Nacional e na época do casamento, já havia falecido. Após casada, Laura Quadros de Andrade passou a se chamar Laura Popinhak.

O casal não teve nenhum filho natural, mas adotaram, praticamente, uma dezena de crianças, sendo essas, muito bem-educadas e criadas. Alguns, ainda presentemente, contam a todos, com muito orgulho, sobre o amor e a educação que receberam de seus pais adotivos.

Devido ao conflito chamado “Guerra do Contestado”, diante da ameaça e provocação generalizada por parte dos fanáticos, de que não tardariam em incendiar a vila de Curitibanos, João Popinhak e sua esposa Laura, fugiram para uma cidade próxima ao litoral. Se estabeleceram na localidade de Aquidabã (município de Apiúna), onde morou por vários anos.

Resolvi escrever sobre Laura Popinhak, colocando seu nome entre os curitibanenses que foram destaque no passado, simplesmente porque seus feitos de altruísmo foram reconhecidos na época, muitos deles, lembrados até os dias atuais pelos moradores mais antigos de Curitibanos. 

A razão porque o casal não teve filhos foi esclarecida por um depoimento da senhora Soeli Pellegrini Andrade (in memoriam), esposa do seu filho adotivo Hélio da Silva Andrade (in memoriam). Segue o relato: essa Laura foi uma mulher tão resignada, que o que Deus determinou para ela, não é qualquer pessoa que conseguiria viver como ela viveu. Ela morreu com sessenta e quatro anos, com uma resignação de dar inveja. Todos os anos que eu convivi com ela, nunca a ouvi reclamar da sua situação. Na época da Guerra do Contestado, quando havia jagunços por aqui, o casal Popinhak fugiu de Curitibanos e foram morar perto de Blumenau. A Laura estava grávida. Lá, ela precisou passar por um procedimento de cesariana. Imagine isso naquele tempo? Ela me contava tudo. Ele (o médico), estava bêbado e acabou furando a bexiga dela em seis lugares. Ela tinha dezoito anos e viveu a vida toda, até os sessenta e quatro anos com a urina solta. Naquele tempo não tinha fraldas descartáveis. Quando ela ficou doente, eu tinha uma lavadeira só para lavar a roupa dela. Ela era uma santa de mulher”. A criança não sobreviveu à intervenção do médico bêbado. Essa foi a razão por que eles não puderam ter filhos. Entretanto, o amor desse casal por crianças era enorme.

O casal morou na vila de Curitibanos, mas também ficou muito conhecido na localidade de Marombas (Marombas Bossardi), onde tinham um hotel e uma casa comercial. São vários os depoimentos que atestam até os dias atuais, sobre a conduta inabalável de Laura e seu marido. Pouco antes de falecer, a senhora Soeli Pellegrini me telefonou, contou-me sobre os últimos dias de Laura Popinhak. Com o seu consentimento, a conversa foi gravada: “isso é o que sabemos sobre a Dona Laura e o Seu João, que foram pessoas com quem convivemos. Fomos nós, praticamente, que cuidamos dela, quando ela teve um derrame cerebral. Ela veio de Marombas para Curitibanos e ficou na nossa casa. Nós morávamos em Curitiba, voltamos de Curitiba para cuidar dela. Ela ficou enferma um ano e nove meses. Dona Laura ficou, por duas vezes, na minha casa. Só que ela morreu na casa da Vanusa (filha adotiva), porque eu realizei uma cirurgia e o Dr. Altino não permitiu que eu cuidasse dela, porque eu não estava bem. Isso me marcou muito. Quando eu fiz a cirurgia, eu morava ao lado do Lapi Hotel. Parece que eu ainda vejo aquela cena, o Osmar (marido da Vanusa) e o Hélio (filho adotivo de João e Laura Popinhak e marido de Soeli) colocando ela dentro de uma Kombi, numa cadeira de vime. Ela foi para a casa da Vanusa e eu fui para o hospital. Só que quando passaram dois meses, comecei a me movimentar, eu ia todos os dias visitar a Dona Laura. Num domingo, ela mandou me chamar na casa da Vanusa. Eu fui vê-la. Depois de conversarmos, ela me pediu para que a acolhesse em minha casa. Eu disse que sim. Disse que sim, mas eu teria que falar com o Dr. Altino, para saber dele, se eu já estava em condições de cuidar dela. Ele disse-me que não, que eu não estava em condições. Naquela noite ela passou mal, entrou em coma e ficou quatro dias nesse estado de coma. Depois faleceu. Ela dizia para o Hélio: “Ah! Meu filho, se não fosse você, eu já teria morrido há muito tempo”. Ela era um doce de pessoa, uma santa de uma mulher. Se eu fosse contar a história de vida dela seria estarrecedor”.

Na localidade de Marombas, João recebeu a concessão da Superintendência (Prefeitura) para construir uma balsa e explorar a travessia sobre o rio, pois naquele tempo, não havia pontes. O seu hotel era muito frequentado, principalmente, pelo clima acolhedor que lá reinava, reflexo da simpatia do casal proprietário, pelas boas camas, com cobertas de penas e pela excelente comida preparada pelas mãos hábeis de Dona Laura Quadros.

Quando eu era criança, meu pai tinha um amigo que o acompanhava nas suas pescarias. O nome desse senhor era José Cavalcante. Ele morava perto de nossa casa com a sua esposa. Ela se chamava Donata. Chamávamos ela de Dona Donata. Em meados do século XX, esse casal teve uma filha chamada Vanusa. Antes de mudarem para perto de nossa casa, em Curitibanos, eles moravam num lugar muito distante. No interior da região da localidade Marombas, no que as pessoas poderiam chamar na época, de um verdadeiro sertão. A senhora Soeli Pellegrini Andrade contou-me que “ (...) essa Dona Donata estava entrevada de um reumatismo muito crítico. Quando a filhinha do casal estava com seis meses de idade e enferma, o casal não podia cuidar da menina. A Dona Laura Popinhak tomou conhecimento dessa situação e foi lá na casa do casal Cavalcante para ficar com a menina, para cuidar dela até que a situação melhorasse para ambas as enfermas, mãe e filha. Quando a dona Donata melhorou, dona Laura foi a cavalo devolver a menina para a legítima mãe. Só que ela foi chorando porque tinha pegado muito amor pela criança. A Dona Donata não teve coragem de ficar com a filha e a deu para que a Dona Laura a criasse como filha, o que aconteceu até o dia do seu casamento”. O casal Popinhak criou desde pequenos, Hélio Andrade que tinha três meses de idade e a Vanusa que tinha seis meses. Os demais filhos adotivos já eram um pouco maiores de idade. Não foram poucos os filhos adotivos do casal João Popinhak e Laura. De acordo com as palavras de Hélio Andrade, foram mais de dez.

Essa foi a história dessa mulher, que quando assava os seus deliciosos pães, muitas crianças corriam para pedir-lhe um pedaço, pois ela os colocava ainda quentes para esfriarem sobre uma varanda da casa, todos que passavam por perto, sentiam aquele delicioso aroma de pão quente. Ainda temos pessoas em nosso meio que lembram desse aroma. Era inconfundível.

Laura Popinhak faleceu no dia 20 de novembro de 1962, na casa da sua filha adotiva Vanusa, de causa mortis: insuficiência cárdio-pulmonar, conforme atestado pelo Dr. Altino Lemos de Farias na certidão de óbito expedida pelo Cartório de Registro Civil de Curitibanos na época. Muitas pessoas compareceram ao velório e enterro, pois na ocasião, mandou-se imprimir convites, que foram distribuídos aos moradores de Curitibanos.





Referências para o texto:



ANDRADE, Hélio de. Depoimento oral sobre João Popinhak. Curitibanos. 2010.


ANDRADE, Soeli Pellegrini. Depoimento sobre Laura Quadros de Andrade. Lages. 2015.


CASAMENTO de João e Laura Popinhak.  "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," FamilySearch. On-line: Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X369-YNM?i=19&wc=MXYL-R3X%3A337701401%2C337701402%2C338276001&cc=2016197


FALECIMENTO de Laura Quadros de Andrade. "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," images, FamilySearch, 2015. ISSN imagem 218 de 305. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-62Y9-PG3?i=217&wc=MXYG-128%3A337701401%2C337701402%2C338783801&cc=2016197 — Acesso em: 10 março 2015.


FALECIMENTO de João Popinhak - Índice. "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," images, FamilySearch, 2015. ISSN imagem 17 de 33. Disponivel em: <https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-267-12327-47485-91?cc=2016197&wc=MXYP-468:337701401,337701402,338835301>. Acesso em: 10 março 2015.


FALECIMENTO de João Popinhak. "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," images, FamilySearch, 2015. ISSN imagem 225 de 301. Disponivel em: <https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-267-12327-52470-13?cc=2016197&wc=MXYP-4ZW:337701401,337701402,338840401>. Acesso em: 10 março 2015.


Imagem do convite para enterro: Acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos.


LEMOS, Alfredo de Oliveira; LEMOS, Zélia de Andrade. A Guerra dos Fanáticos. Florianópolis: [s.n.], 1984.


LEMOS, Zélia de Andrade. Curitibanos na História do Contestado. 2ª. ed. Curitibanos: Impressora Frei Rogério Ltda., 1983.


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POPINHAKI, Antonio Carlos. Popiwniak / Antonio Carlos Popinhaki. — Blumenau: 3 de Maio, 2015. 173 p.


POPINHAKI, Antonio Carlos. João Popinhak. Blog curitibanenses. On-line: Disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/joao-popinhak.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. O prédio do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Blog pessoal. On-line: Disponível em: http://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2021/01/o-predio-do-museu-historico-antonio.html

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